Tuesday, December 27, 2005

 

Politiquices

Na banca de hoje podem-se ler as disputas acesas entre os candidatos á presidência da nossa Republica, discursos sem objectivos, definição e clareza junto do eleitorado. Assistimos a pseudo debates, que em nada contribuem para o esclarecimento do povo, e apenas enriquecem a já gasta ideia de que o político é apenas escolhido pelos seus representantes pela sua imagem, e pela sua falsa eloquência. Neste pais, sofremos de uma “partidite” aguda, onde os votos não são atribuídos a uma ideia, a um plano, mas sim a um determinado partido, apenas por tendência, por hábito, contribuindo dessa forma para a já gigantesca apatia e estagnação mental em que vivemos. Tentei, sinceramente tentei. Mas é impossível assistir a confrontos em que ideias apenas levam a insultos pessoais, trocas de galhardetes, obviamente lamentáveis, que só podem ser traduzidos em insultos ao eleitorado, que anseia por ideias, por planos de trabalho, devidamente estruturadas. Esperemos que não cheguemos ao nível do Parlamento de Taiwan que já nos habitou ás fantásticas sessões de luta livre e arremesso de objectos contundentes.

Recordo-me de um confronto nas tão pobres e já felizmente passadas eleições autárquicas deste ano, entre Manuel Maria Carrilho e Carmona Rodrigues. Senti-me revoltado ao testemunhar tal prestação tão degradante para a classe política e à inteligência humana, ao assistir a interrupções constantes, insultos pessoais e familiares, falta de ideais, e pior que falta de ideias, falta de ideais. Não consegui aguentar por muito mais tempo e recorri ao zapping. É isto a política em Portugal.

Entristece-me saber que temos pessoas muito capazes, com provas dadas, mas que, chegadas ao Governo, parecem perder todas as suas qualidades, ficando presas nos tentáculos dos “lobbys” governamentais, que, ao longo de anos e anos, retraem o crescimento da nossa sociedade.
Repare-se nos casos de grandes personalidades que encontraram noutros países o caminho para melhor explorar as suas qualidades, os nossos futebolistas de classe mundial, António Damasio, José Saramago, entre outros.

Felizmente, nem tudo é mau, algumas medidas tomadas nos últimos anos por alguns dos nossos governantes agradaram-me nomeadamente as medidas tomadas pelo elenco governativo de José Socrates no que diz respeito à caça à fuga ao fisco, acto tão orgulhosamente evocado pelo português, como forma socialmente instituída de enganar o Estado e dessa forma, enganar o próximo. Esta forma tão assumidamente portuguesa e terceiro-mundista do qual se pavoneia o falso contribuinte português, e que parece ser arrastada de geração em geração.
A partir do momento em que o próprio Estado comete ilegalidades, como podem pedir ao contribuinte que não as cometa ? Trabalho numa instituição estatal onde são praticados contratos a termo certo de 3 meses por períodos contínuos de 5 anos e até mais, claramente contra a lei do código do trabalho que indica que o prazo máximo em que isso pode suceder são apenas 2 anos e seis meses. Tal como diz o povo, o exemplo tem de vir de cima e sendo a fiscalização destes actos praticamente inexistente, iremos continuar a lamentarmo-nos dos nossos parcos salários e precárias condições de emprego.

Nestes 31 anos e alguns meses pós- ditatoriais, vivemos numa euforia desmesurada de liberdade, contrastando com o rigor financeiro e organizacional de outros países europeus. Basta olhar para o nosso vizinho do lado.
Não saudando o regime ditatorial salazarista ( os blogs nos anos salazaristas seriam obviamente censurados ) talvez devêssemos pensar na forma rígida e organizada como eram tratados alguns assuntos, e não explodir numa manifestação errada de liberdade anteriormente enclausurada nas celas da PIDE-DGS, prestes a ser tornada num regime anárquico, onde reina a lei do que melhor consegue enganar.

Depois da desastrosa passagem pelo Governo de Santana Lopes e seus amigos, iremos testemunhar no próximo ano o regresso do fantasma laranja de Boliqueime, que há 10 anos, deixou o pais em caos, saída então tão festejada pelo povo português. Infelizmente, ao povo português foi diagnosticada uma patologia grave de amnésia, e vamos ter como Presidente da Republica um homem que ordenou a carga policial sobre a voz da revolta contra as portagens na ponte 25 de Abril, ponte essa, que segundo os nossos prezados ecónomistas, já foi paga mais de 3 vezes.
Continuaremos a ter nas nossas Câmaras Municipais autarcas corruptos e corruptas, que apesar das fugas para o sol e para a praia financiadas pelo muy famoso saco azul, voltam aclamados pelos seus eleitores. O povo tem aquilo que quer e mais não peçam. Já diz o ditado, “ cada um tem aquilo que merece. “
Sendo nosso, compete a nós mudar este pais... Mas à luz do que tem vindo a acontecer nos últimos anos, este deixa de ser cada vez menos o meu país.


This page is powered by Blogger. Isn't yours?